Veja os tuítes a seguir cruzando o mapa de Weyll com um mapa moderno. Fica fácil de entender porque “tudo alaga” em Salvador quando chove.
O “Rio da Lucaia” em Weyll é a atual avenida Vasco da Gama, inaugurada em meados do século XIX como “Estrada Dois de Julho”. Foi totalmente tampada muito recentemente, mas o vale do Lucaia explica os alagamentos na área.
O “Canella” aparece em Weyll “cercado” por um rio. É o Rio de São Pedro, que corre como um fio d’água que inunda em cada chuva no Vale do Canela e desemboca no Lucaia, passando por onde a av. Garibaldi encontra com a av. Vasco da Gama.
A transposição do Camarajipe de 1972, aliás, desviou o curso do rio na altura do atual Shopping da Bahia para dividi-lo em dois: metade segue pela av. ACM + Juracy Magalhães (leito antigo), metade segue pela Tancredo Neves + Magalhães Neto (leito do Pernambués).
Os exemplos de Weyll acabam aqui. Poderia “puxar” outros mapas e mostrar outros tamponamentos, como o do Rio dos Seixos, no Imbuí, mas eles não estão disponíveis online.
Tudo isso para dizer: não, a “natureza” não é responsável pelos alagamentos em Salvador, assim como não o é pelos deslizamentos. Alagamentos resultam da disputa entre classes sociais antagônicas pelos melhores espaços para suas moradias e atividades econômicas.
A ocupação das encostas é um dos efeitos da disputa entre classes sociais antagônicas pelos melhores espaços para suas moradias e atividades econômicas em Salvador. Alagamentos também: afinal, quem quer morar em pântanos, beiras de rio ou aterros alagadiços?
Pântanos, aterros e beiras de rio em Salvador são, como as encostas e áreas de risco, “o que sobra” quando melhores áreas para habitação e atividades econômicas já foram tomadas pelas classes dominantes, e só podem ser acessadas por compra ou aluguel.
Poderá haver, sim, obras de drenagem ou estabilização de encostas que resolvam total ou parcialmente o problema nas áreas mais críticas. Mas a “bomba” do acesso desigual à terra urbanizada em Salvador explodirá novamente no futuro, de outras formas.
É de luta de classes que falamos ao tratar de alagamentos em Salvador. Quando “pobres” perdem casas em deslizamentos ou alagamentos, precisam, sim, de apoio imediato, mas o problema voltará no futuro. Não por falta de obras, mas por acesso desigual à terra urbanizada.
Fonte: Passapalavra.info